sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Quem foi Maria Madalena: prostituta, adúltera, irmã de Lázaro, ou mulher de Jesus?




Quem foi Maria Madalena: prostituta, adúltera, irmã de Lázaro, ou mulher de Jesus? 
(Lc-7:37-39) (Jo-8:3-4) (Mc-14:3) (Jo-8:1-17)



          Dos milhares de nomes apresentados na bíblia pouco mais de 170 são atribuídos às mulheres. E entre esses, temos o nome de Maria, que tem sido objeto  de estudo no campo religioso e filológico por conta de ser o nome da mãe do Salvador. Porém, deixando de lado a questão de ordem antroponímica, quero focar minha atenção, mais precisamente, no aspecto religioso em torno desse nome, a fim de, na medida do possível, solucionar algumas dúvidas que pairam na mente de muitos leitores da Bíblia com respeito, mais especificamente, a Maria Madalena.

       
 ETIMOLOGIA
     
          Maria: Forma grecizada do hebraico ( מיריא  Miryan, Miriã). Que significa "elevada, exaltada". Segundo alguns estudiosos significa, "rebelião" (A etimologia desse nome é bastante controvertida).


AS MARIAS DA BÍBLIA

           Quantas Marias são Apresentadas na bíblia? Maria madalena é mesma Maria irmã de lázaro? nas suas diferentes formas a Bíblia registra 8 mulheres que receberam o nome de Maria:
1ª) Miriã, irmã de Moisés e Arão. (Nm-26:59)
2ª) Miriã, descendente de Judá.  (1Cr-4:17)
3ª) Maria, mãe de Jesus. (Mt-1:18)
4ª) Maria, madalena, uma mulher de magdala*. (Lc-8:2)
5ª) Maria, de Betânia, irmã de Lázaro e Marta. (Jo-11:2)
6ª) Maria, de Clopas, a máe de Tiago, o menor e tia de Jesus. (Jo19:25)
7ª) Maria, mãe de João Marcos. (At-12:12)
8ª) Maria, cristã romana que Paulo saudara em romanos. (Rm-16:6)


MARIA MADALENA (ORIGEM)

             O nome Madalena é um adjetivo gentilíco, ou nome pátrio. Ele indica seu lugar de origem, para distingui-la das demais. Segundo a tradição local ele era uma  habitante de Magdala, dizia-se que esta cidade localizava-se sobre a costa sul-ocidental do mar da galiléia, daí o sobre-nome magdala ou madalena.
                  Nos escritos de Flávio Josefo, do século I, não existe nenhuma cidade chamada Magdala. Como sabemos ele estava a serviço de Roma e forneceu aos romanos informações detalhadas sobre a geografia e recursos disponiveis a Roma naquelas terras. A cidade que geralmente é apresentada por cidade natal de Madalena é "Migdal Nunnayah" Torre de peixes.
                  Alguns teóricos dizem que diz respeito a sua cidade de origem, porem outros, dizem que é muito provável que esta cidade não existia no tempo de Madalena, pelo menos com este nome e sim foi criada posteriormente, após a guerra dos judeus, ou recebeu o nome torre de peixes após este evento.
             " A cidade hoje chamada Magdala, era chamada anteriormente, na época de Madalena, de Tariqueia nos tempos bíblicos. Flávio Josefo, um historiador judeu, contemporâneo a Jesus, uma das maiores referências na historia judaica da época de Jesus, no primeiro rascunho, do seu livro " guerra dos judeus" em aramaico, chama a cidade de Tariquéia , e qualquer outro documento anterior a 70dc, também a chama de Tariquéia não Magdala. Tariquéia foi destruida em 67dc, e a cidade que foi reconstruida no antigo sítio no litoral do mar da galileia passou a chamar-se "Magdala Nunnayah" (expressão aramaica q significa torre de peixes). Nesta época, Maria Madalena já estava morta.
                 Magdala viria da palavra hebraica Migdal, que significa "Torre". Sendo assim a expressão mais correta para Maria a Magdala, seria "Maria a Torre".
                 
                  O que implicaria chama-la de Torre?









                  A esposa do rei Davi também foi chamada de Torre. Mical, princesa da tribo de Benjamim, filha do primeiro rei hebreu Saul, e também esposa de Davi, foi chamada de "torre de vigia", ou  "praça forte", filha de Sion. Maria, princesa da tribo de Benjamim, da casa de Betânia, prometida ao herdeiro de Davi, também teria sido chamada de "Torre/Migdal", a Magdala."Magdal-eder" significa literalmente a "torre do rebanho," no sentido de um lugar elevado usado por um Pastor como um ponto de vantagem."Chamar Maria de Torre, seria o equivalente hebreu de chamar "Maria de grande".












MARIA MADALENA ERA UMA PROSTITUA?

                    A primeira citação de Maria Madalena como uma prostituta aconteceu em um sermão do papa Gregório, o grande, no ano 591 d.C. Provavelmente essa idéia é o resultado da confusão entre Lucas 7 e 8. Pois em (LC-7) temos a presença de uma pecadora na casa de Simão, o leproso, quando do jantar que ele ofereceu a Jesus. E logo a seguir, no capítulo 8, Lucas registra o nome de Maria madalena, o que explica o motivo da confusão e o equívoco de alguns que chegam a pensar que aquela pecadora era Maria Madalena. Mas vale lembrar que não temos nenhuma base bíblica ou mesmo histórica para defender ou provar essa idéia. E por outro lado, aquela pecadora é simplesmente uma anônima e, portanto, nada tem a ver com Maria Madalena.



MARIA MADALENA ERA UMA MULHER ADÚLTERA?

                    outro equívoco cometido por muitos cristãos, diz respeito a associação que ele fazem entre Maria Madalena e a mulher adúltera de João 8. Talvez, esse equívoco deve-se ao fato dela, no passado, haver sido possuída por sete demônios, os quais foram expelidos por Jesus (Lc-8:2). Ora, a mulher adúltera foi assim denominada porque desonrou os votos do matrimônio; o que comprova, naturalmente, que ela tinha marido. Mas quanto a Maria Madalena, não há nenhuma passagem bíblica que, explícita ou implicitamente, possa comprovar que ela fosse casada. Portanto, fica dessa forma descartada a hipótese dela ser a mulher adúltera descrita por João, o evangelista.




MARIA MADALENA ERA A IRMÃ DE LÁZARO?
                         
             Pelo fato da Bíblia estar cheia de homônimos, ou seja, de pessoas que, apesar de diferentes,possuem um mesmo nome, é muito natural que as vezes, por um pequeno descuido possamos fazer confusão entre os personagens bíblicos. Maria, como já vimos, há no novo testamento, seis mulheres com esse nome. Entre as quais, Maria de Betânia, a irmã de Lázaro e Maria Madalena, duas personagens totalmente distintas. Vejamos algumas diferenças entre ambas:
A) Maria Madalena: era de Magdala, na região da galiléia; 
B) Maria, irmã de Lázaro, era de uma aldeia em Betânia, na região da Judéia;
C) Maria Madalena não é apresentada como tendo irmãos;
D) Maria de Betânia tinha dois irmãos: Marta e Lázaro. E para finalizar, diferente de Maria de Betânia, Maria Madalena ajudou a sustentar o ministério de Jesus, esteve ao pé da cruz no dia da crucificação do Mestre, esteve no sepulcro de Jesus no dia do sepultamento e no da ressurreição, e foi a primeira a ver Jesus ressuscitado e a tocar nele, e anunciar a sua ressurreição aos discípulos.


MARIA MADALENA ERA MULHER DE JESUS?
                           
                         Dan Brown, em seu romance, "O Código da Vinci" procura sustentar um suposto casamento  entre Jesus e Maria Madalena. Segundo ele, a igreja católica, através da Opus Dei, uma sociedade secreta da igreja, procura encobrir essa "verdade" , que poderá comprometer a história do Cristianismo, levando, inevitavelmente, os Cristãos a reavaliar seus conceitos e fazer uma releitura dos princípios da fé Cristã. Diante dessa afirmação deve-se perguntar: Maria Madalena, realmente, foi a mulher de Jesus? Que provas efetivamente o romancista apresenta para fazer tal afirmação? O que a bíblia diz a esse respeito?
                        Em primeiro lugar quero afirmar, baseado na bíblia, que Maria Madalena jamais foi mulher de Jesus, pela seguintes razões:
1) Não há nenhum documento, historicamente confiável, que possa provar isso;
2) Não há na bíblia nenhuma só passagem que afirme que Jesus fosse casado com Maria Madalena
3) Se Jesus fosse casado não haveria nenhum problema ou motivo para que os discípulos ou os evangelistas omitissem esse fato. Não obstante, nenhum deles faz alusão a esse suposto casamento;
4) As mulheres tinham seus nomes geralmente ligados ao de um homem, marido ou parente. Maria Madalena é exceção à regra. Se ela fosse casada com Jesus, seu nome deveria vir ligado ao dele pelo menos uma vez, o que de fato não acontece. Pois ela, conforme os relatos dos evangelistas, é conhecida, apenas, pelo seu lugar de origem , a saber, Magdala. Daí chamar-se Maria Madalena, ou seja, de Magdala.
5) Os estudiosos concordam que Jesus era solteiro. Logo, Maria Madalena não poderia ser casada com ele.
6) As provas documentais, apresentada por Dan Brown, Baseiam-se apenas nos evangelhos apócrifos de Filipe e de Maria. Mas vale salientar que essas obras não são reconhecidas pela comunidade judaica e nem mesmo pela igreja como sendo de autoridade canônica, pois são apenas fruto do conceito filosófico-religioso dos gnósticos. (recomendo leitura dos apócrifos para busca de conhecimento histórico)
7) Paulo, em defesa dos seus direitos como apóstolo, na sua primeira carta aos coríntios,  não faz alusão a esse pretenso casamento. Ele menciona Cefas, os irmãos do Senhor, mas não cita o nome de Jesus, nem por inferência. Isso não é estranho? Ora, se Jesus fosse realmente casado com Maria Madalena, Paulo jamais  deixaria de citar o seu nome. Paulo, como sabemos quando queria convencer o seu auditório valia-se de todos os recursos possíveis (1Co-15:29). Portanto, com base nessas premissas, podemos concluir que Maria Madalena nunca foi casada com Jesus.




QUEM FOI MARIA MADALENA?

                          Maria Madalena, segundo o relato bíblico apresentado pelos evangelistas:
1) Era uma discípula devota de Jesus, o qual a libertou de sete demônios. E, provavelmente, por conta dessa libertação, passou a segui-lo; (Mc-16:9) (Lc-8:1-2).
2) Servia-o com os seus bens; (Lc-8:1-3)
3) Esteve ao pé da cruz; (Mt-27:56) ((Mc-15:40) (Jo-19:25)
4) Esteve assentada junto ao sepulcro quando o corpo de Jesus foi sepultado; (Mt-27:61)
5) Foi na manhã do primeiro dia ungir o corpo de Jesus; (Jo-20:1)
6) Foi a primeira a ver Cristo ressurreto;  (Mc-16:9) (Jo-20:11-17)
7) Seu nome aparece doze vezes como Maria Madalena(Mt-27:56, 61/ 28:1) (Mc-15:40,47/ 16:1, 9) (Lc-8:2/ 24:10) (Jo-19:25/ 20:1, 18) e uma vez como Maria (Jo-20:11).


                    Isso é tudo por enquanto, espero que gostem e que traga luz ao seu entendimento, deixe seu comentário. A paz de Cristo. 
                       
                  Marcos Andrade.    

domingo, 19 de setembro de 2010

Exegese do Salmo 1


SL-1:3


      Este foi um trabalho que apresentei no primeiro semestre da faculdade, é uma exegese do salmo 1, ficou bem legal, a foto postada acima é para identificar o ponto chave da minha interpretação, leia que você irá entender. Mais do que um trabalho acadêmico tive como objetivo tirar algo relevante para os nossos dias. Espero que goste. Que Deus ilumine nossas mentes.


INTRODUÇÃO

            Escolhi o salmo 1, por ser à porta de entrada para todo o livro dos salmos, ele serve como introdução, ele contrasta dois tipos de pessoas do ponto de vista de Deus.
Estes dois tipos de pessoas são: os justos e os injustos, tendo cada tipo um conjunto distintivo de princípios de vida.
            Os justos são caracterizados, pelo amor, pela retidão, pela obediência a lei do Senhor e pela separação do mundo, ou seja, do sistema mundial,
            Os injustos, que representam o modo de ser e as ideias do mundo, que não permanece na palavra de Deus, que o salmo em questão identifica como a lei do Senhor, e por isso não tem parte na assembleia do povo de Deus.
            Deus conhece e abençoa o justo, mas o injusto não tem parte no reino de Deus, e isso me chama muito a atenção, porque a separação entre estes dois grupos existirá no decurso da história e da redenção e isto me leva a uma profunda reflexão, faço um exame de consciência, revejo meus conceitos, meus princípios, para ver se os meus atos, meus caminhos, estão me levando para o grupo dos justos ou dos injustos e dependendo para onde estou indo, ou seja, para que grupo estou  caminhando, sou forçado a tomar uma decisão.  
            Este trabalho pretende ser uma interpretação bíblica sobre o salmo 1, para tais propósitos irei utilizar ferramentas exegéticas, elas nos ajudam a conhecer o texto na sua forma e conteúdo. Abordarei os seguintes itens: tradução do texto, data, lugar, autoria, gênero literário, forma e poesia, finalmente assunto de interpretação. Além do mais fornecerei uma conclusão que possa ter relevância em nossa atualidade.

SALMO 1
           
            1. Texto:
1 Feliz o homem
   Que não vai ao conselho dos injustos,
   não para no caminho dos pecadores,
   nem se assenta na roda dos zombadores.
2 Pelo contrário:
   Seu prazer está na lei de Javé,
   E medita sua lei dia e noite.
3 Ele é como árvore
   Plantada junto d’água corrente:
   dá fruto no tempo devido,
   e suas folhas nunca murcham.
   Tudo que ele faz é bem-sucedido.

4 Não são assim os injustos! Não são assim!
   Pelo contrário:
   São como a palha que o vento arrebata...

5 Por isso os injustos não ficarão de pé no julgamento,
   Nem os pecadores na assembleia dos jutos.
6 Porque Javé conhece o caminho dos justos,
   Enquanto o caminho dos injustos perece.

 2. Data, lugar e autoria:
a) Data: O (v.5) fala na congregação dos justos, que pode ser uma referência ao templo de Jerusalém, com base nesta referência pode-se datar este salmo na época pré-exílica, pois o templo ainda não havia sido destruído pelos babilônios em 586 a.C.
b) Lugar: [1]Parece haver neste salmo um conflito por causa da terra, aquilo que costumamos chamar de conflito cidade x campo. De fato as duas imagens usadas são tiradas da roça; árvore plantada junto ao córrego e que produz, e palha que o vento arrebata para fora da eira. O criador do Salmo 1 era, provavelmente, alguém ligado à luta dos camponeses contra a exploração dos grandes. Ou, ainda, esse salmo nasceu em ambiente camponês em tempos de latifundiários gananciosos.
c) Autoria: Desconhecida, pois o texto não dá informações sobre seu autor.

 3. Gênero literário:
            O Salmo 1 é do tipo sapiencial. Pois ele fala do sentido da vida, questões existenciais, felicidade, ilusão das coisas terrenas, nos leva a refletir e a dar um sentido a tudo que fazemos, temos e somos.


4. Forma e poesia:
Cabeçalho
A felicidade dos justos e o castigo dos injustos
Frase principal: (v.1a) Feliz o homem.
1ª Estrofe: (v.1b - v.3) A felicidade dos justos.
2ª Estrofe: (v.4 - v.6) O castigo dos injustos.
            Assuntos da 1ª estrofe: não vai, não para, nem se assenta, seu prazer, lei, nela medita dia e noite, árvore plantada, água, fruto, folha, bem-sucedido.
            Assuntos da 2ª estrofe: palha, vento, arrebata, injustos não ficarão de pé, julgamento, pecadores, assembleia dos justos, Javé conhece, justos e injustos.


 5. Assuntos de interpretação:

            5.1- Feliz o homem: (v.1).
            Também pode ser traduzido por bem-aventurado ou ditoso, o termo no original hebraico é (ashrey), Aqui o salmista mostra algo muito importante, que feliz ou bem-aventurado será aquele que cumprir as três coisas enumeradas pelo salmista; que são três não:
a) Não vai: no hebraico o verbo usado é (halakh), caminhar, ir, andar, passear. Este verbo está no passado e pode ser traduzido assim: feliz aquele que não andou, isso dá um sentido mais profundo à frase, pois a idéia do salmista é enfocar não só aquilo que está acontecendo, mas também aquilo que já aconteceu, tornando a delimitação mais abrangente.
            O conselho, aqui o vocábulo hebraico é (ats’at) que significa conselho parecer, e a palavra usada para injusto é (reshaim) que também pode ser traduzido por ímpio vem do radical (rashe’a) que dá a idéia de: condenar-se, ser mal, por tanto o salmista quer dizer, que o injusto ou ímpio é aquele que condena a si mesmo em algo, mesmo sabendo que aquilo que ele está fazendo é errado. O conselho dos injustos ou ímpios para o salmista é a comunhão com o sistema mundial, com as trevas, com aqueles que conscientemente caminham para a destruição.
b) Não pára: O verbo usado aqui pelo salmista é (‘amad) também está no pretérito e significa: parar, estacionar, e leva a uma ação consumada. A tradução ficaria não parou, aqui o salmista faz um paralelismo com a frase não andoudando o mesmo sentido daquilo que já foi consumado.
            O caminho dos pecadores no hebraico o vocábulo é (hatã), que vem do verbo de mesma grafia, que quer dizer: errar. Quando o salmista refere-se ao caminho dos pecadores ele tem em mente o caminho daqueles que estão em erros ou errados, estão em pecados, estão desviados do alvo que é o termo teológico para a definição de pecado. O alerta do salmista aqui é para o justo tomar o cuidado para estacionar, ou parar neste caminho.
c) Nem se assenta: aqui o verbo hebraico é (yashav), que significa: sentar-se, permanecer, habitar. O salmista usa o mesmo tempo do verbo, ou seja, no passado e a tradução ficaria assim: não se assentou, transmitindo a mesma idéia daquilo que já aconteceu. A roda dos zombadores, no original os vocábulos são os seguintes: roda (moshav), que quer dizer: assentamento, vila e para zombadores temos (letsym), que significa: fúteis, volúveis, palhaços, perversos, escarnecedores, no original da à seguinte idéia: estão escarnecendo, estão sendo fúteis, estão sendo volúveis.
            5.2- Características do justo: (v.2).
            Aqui o salmista mostra duas características do justo, que são: o seu prazer e o seu meditar.
a) O seu prazer: a palavra usada aqui é (heféts), que significa desejo, anelo. O verso diz: o seu prazer está na lei de Javé, o salmista aqui faz uma alusão à lei dada ao povo judeu através de Moisés, pois o maior prazer que o judeu fiel tinha, era estar junto da sua toráh. Uma das primeiras coisas que uma criança judia aprendia ara o shemá”.
SHEMÁ ISRAEL                                 OUVE ISRAEL
                    ADONAI ELOHEINU                         O SENHOR NOSSO DEUS
       ADONAI ACHAD                                É ÚNICO SENHOR
(Dt-6:4)                                          (Dt-6:4)
            Os pais quando estavam ensinando a toráh para seus filhos e eles aprendiam, os pais davam mel para eles. Desse modo, eles associavam que a palavra de deus era doce como o mel (Sl-119:103). Assim eles tinham prazer em aprender a lei de Javé.
b) O meditar: o verbo hebraico usado aqui é (hagah), que significa: falar, expressar, pensar meditar. O texto diz e medita sua lei dia e noite, é notável percebermos o amplo sentido deste verbo. O salmista está afirmando que Javé abençoa o servo que medita (exame interior) , fala, pensa, estuda a sua palavra de dia e de noite. A expressão dia e noite além de especificar um período de tempo, pode caracterizar tipologicamente, luta e vitória (Sl-30:5b). O choro pode durar uma noite, mas, a alegria vem pela manhã, neste caso a ficaria assim: “o choro pode durar uma noite (luta), mas a alegria vem pela manhã (vitória)”.
            O salmista está dizendo que tem vitória aquele que medita na lei de Javé quando está bem (dia), mas também medita quando tudo está mal (noite).
            [2]O justo sofre assédio, cerco e zombaria por parte dos injustos. Mas se mantém firme na escuta e meditação da lei de Javé.


 5.3- O justo como uma árvore: (v.3).
            O salmista compara o justo com uma árvore e dá a esta árvore quatro características, que são:
a) Plantada: o verbo está no particípio e dar-se a entender que Javé é quem plantou, e que Javé é o responsável pelo cuidado desta árvore dando-lhe todo nutriente necessário, para a sua existência.
b) Junto d’água corrente: a palavra hebraica usada aqui para corrente é (peleg), que também pode significar facção ou à parte. Plantada junto d’água corrente parece que o salmista está fazendo uma alusão às escrituras, ou está se referindo literalmente a um rio, mas na verdade ele está se referindo ao mundo (sistema), os injustos, e está árvore (homem ou mulher) foi plantada numa facção (peleg) à parte, separada das águas (alusão ao mundo, sistema), ou seja, a obra de Deus constitui-se numa facção, uma parte de homens e mulheres que tomaram outro rumo a seguir, o salmista desvincula totalmente o justo do injusto.
c) Dá fruto no tempo devido: no original o verbo é (Natan), que significa: dar, colocar. O salmista parece ser um homem do campo e está sendo oprimido por alguém que ele chama de injusto, e faz um retrato perfeito do justo, que dirigido por Javé, não dá fruto fora da hora, mas no tempo determinado, na estação própria, ou seja, o salmista está tranqüilo porque no momento certo ele, isto é, sua terra dará seus frutos.
d) Suas folhas nunca murcham: o verbo usado aqui é (navel), que significa: murchar, fenecer, secar. Além de ser uma árvore que só dá fruto na estação própria, o justo é também tipo de uma árvore cuja folha não murcha ou seca, o salmista está dizendo que esta árvore não sente mudança de tempo. Tem épocas do ano que as árvores perdem suas folhas, em Israel isso acontecia no início do inverno, a figueira, ficava totalmente sem folhas, o salmista dá entender que o justo não sente essa mudança de tempo e ainda tudo o que ele faz é bem-sucedido, o verbo usado para bem-sucedido é (tsalakh), que significa: prosperar, triunfar, atravessar. O salmista está dizendo que o justo terá êxito, triunfará e atravessará por qualquer adversidade.  
  
 5.4- Não são assim os injustos: (v.4).
             Injustos que pode ser traduzido por ímpios, quer dizer: que não tem fé, incrédulo, que pratica impiedade, que não pratica a justiça. O salmista aqui dá dois exemplos de como são os injustos.
a) São como a palha: esta palavra no hebraico é (mots), que significa: palha cortada em pedaços, escória de cereais. João Ferreira de Almeida edição RC. 1995; traduziu esta palavra por moinha. Se o injusto é como a palha, o salmista está dizendo que é um ser leve, sem consciência espiritual, vazio, verdadeiro dejeto humano, largado as suas próprias sortes, a moinha, segundo o dicionário Aurélio é, fragmentos miúdos de palha que ficam depois da debulha de cereais, (cascas de grãos vazias).
b) Que o vento arrebata: o verbo usado aqui é (nadaf), que significa: dispersar, espalhar. O verbo está no futuro, indicando uma ação que ainda ocorrerá, o salmista está dizendo que o vento irá soprar nestas cascas de grãos vazias (os injustos) e os espalhará. A palavra vento no hebraico é a mesma usada para o Espírito (ruach), que quer dizer: vento, sopro, espírito, aqui o salmista dá a entender que o próprio Deus é quem os espalhará.


5.5- Dois futuros: (v.5).
            Aqui o salmista faz uma analogia a dois futuros, um para os injustos e outro para os pecadores fazendo um paralelismo entre si.
a) O futuro dos injustos: “não ficarão de pé no julgamento” no orinal hebraico o verbo é (kum), que quer dizer: levantar-se, rebelar-se, resistir. Aqui o salmista dá a entender que o injusto não poderá ao menos se levantar no dia do juízo, pois Javé não os permitirá.
b) O futuro dos pecadores: “não subsistirão na assembléia dos justos” a palavra para assembléia no hebraico é (odat), e é oriunda do verbo que significa “adornar”. O salmista está dizendo que os pecadores não irão compor o adorno, jóia dos justos (figura da salvação, promessas, dons, etc). Sendo assim o salmista diz que não serão reconhecidos por Javé e serão espalhados pelo horizonte a fora.


 5.6- Dois caminhos: (v.6).
            Semelhante ao versículo anterior, o salmista faz o mesmo jogo de palavras usando sendo que agora para dois caminhos, fazendo paralelismos semelhantes.
a) O caminho dos justos: este caminho é conhecido por javé, o salmista está dizendo que por onde o justo passa Javé tem cuidado dele, que é conhecedor de cada passo, de cada atitude tomada e este caminho conduz à paz, a alegria e a salvação.
b) O caminho dos injustos: conduz à ruína, o verbo usado no original é (avad), que quer dizer: “perder-se”, errar, perecer, sumir, deste verbo deriva-se apalavra “abadom” que quer dizer: “destruição”. Nisto o salmista está dizendo que o caminho do injusto conduz a perdição e a destruição.

BÍBLIOGRAFIA

BORTOLINI, José. Conhecer e rezar os salmos. São Paulo, Paulus 2000.
CALVINO, João. Comentário de salmos. Editora Fiel.
KIDNER, Derek. Comentário de salmos. Edições Vida Nova.


[1] BORTOLINI, José. Conhecer e rezar os salmos, São Paulo, Paulus 2000 pg. 20.
[2] BORTOLINI, José. Conhecer e rezar os salmos, São Paulo, Paulus, 2000 pg. 21.






quarta-feira, 15 de setembro de 2010

O mal existe???




O mal existe?????




Durante uma conferência com vários universitários, um professor da Universidade de Berlim desafiou seus alunos com esta pergunta:
“Deus criou tudo o que existe?"

Um aluno respondeu com grande certeza:
-Sim, Ele criou!

-Deus criou tudo?
Perguntou novamente o professor.

-Sim senhor, respondeu o jovem.



O professor indagou:
-Se Deus criou tudo, então Deus fez o mal?  Pois o mal existe, e partindo do preceito de que nossas obras são um reflexo de nós mesmos, então Deus é mau?

O jovem ficou calado diante de tal resposta e o professor, feliz, se regozijava de ter provado mais uma vez que a fé era uma perda de tempo.

Outro estudante levantou a mão e disse:
-Posso fazer uma pergunta, professor?
-Lógico, foi a resposta do professor.

O jovem ficou de pé e perguntou:
-Professor, o frio existe?
-Que pergunta é essa?  Lógico que existe, ou por acaso você nunca sentiu frio?

Com uma certa imponência rapaz respondeu:
-De fato, senhor, o frio não existe.  Segundo as leis da Física, o que consideramos frio, na realidade é a ausência de calor.  Todo corpo ou objeto é suscetível de estudo quando possui ou transmite energia, o calor é o que faz com que este corpo tenha ou transmita energia.  O zero absoluto é a ausência total e absoluta de calor, todos os corpos ficam inertes, incapazes de reagir, mas o frio não existe.  Nós criamos essa definição para descrever como nos sentimos se não temos calor.

-E, existe a escuridão?  Continuou o estudante.
O professor respondeu temendo a continuação do estudante:

Existe!

O estudante respondeu:
-Novamente comete um erro, senhor, a escuridão também não existe.  A escuridão na realidade é a ausência de luz.  A luz pode-se estudar, a escuridão não!  Até existe o prisma de Nichols para decompor a luz branca nas várias cores de que está composta, com suas diferentes longitudes de ondas.  A escuridão não!

Continuou:
-Um simples raio de luz atravessa as trevas e ilumina a superfície onde termina o raio de luz.
Como pode saber quão escuro está um espaço determinado?  Com base na quantidade de luz presente nesse espaço, não é assim?!  Escuridão é uma definição que o homem desenvolveu para descrever o que acontece quando não há luz presente.

Finalmente, o jovem perguntou ao professor:
-Senhor, o mal existe?

Certo de que para esta questão o aluno não teria explicação, professor respondeu:
-Claro que sim!  Lógico que existe.  Como disse desde o começo, vemos estupros, crimes e violência no mundo todo, essas coisas são do mal!

Com um sorriso no rosto o estudante respondeu:
-O mal não existe, senhor, pelo menos não existe por si mesmo.  O mal é simplesmente a ausência do bem, é o mesmo dos casos anteriores, o mal é uma definição que o homem criou para descrever a ausência de Deus.  Deus não criou o mal.  Não é como a fé ou como o amor, que existem como existem o calor e a luz.  O mal é o resultado da humanidade não ter Deus presente em seus corações.  É como acontece com o frio quando não há calor, ou a escuridão quando não há luz.

Por volta dos anos 1900, este jovem foi aplaudido de pé, e o professor apenas balançou a cabeça permanecendo calado… Imediatamente o diretor dirigiu-se àquele jovem e perguntou qual era seu nome?

E ele respondeu:
ALBERT EINSTEIN, senhor!

A tentação de Jesus


A tentação de Jesus (Mt-4:1-11)

Este trabalho pretende ser uma interpretação bíblica sobre Mateus 4:1-11, tentarei quebrar alguns dogmas e misticismo  que cercam este texto. Para isso tentarei mostrar um Jesus mais humano e não aquele super-homem que sai voando do deserto para o pináculo do templo, juntamente com satanás. Para tais propósitos irei utilizar ferramentas exegéticas, elas nos ajudam a conhecer o texto na sua forma e conteúdo. Abordarei os seguintes itens: tradução do texto, data, lugar, autoria, gênero literário e forma, finalmente assunto de interpretação. Além do mais fornecerei uma conclusão que possa ter relevância em nossa atualidade.


         Perícope: A narrativa da tentação de Jesus no Evangelho de Mateus, fica estabelecida no capítulo 4 dos versículos 1-11, pois no capítulo 3 e versículo 17 termina a narrativa do se batismo, e no capítulo 4 versículo 12 se inicia com Jesus voltando para a Galiléia, após a prisão de João Batista.

         Traduções: RC (para estudo do texto)
                            NVI (para comparar os textos)
         Para o estudo final do texto e exposição do mesmo, usei o novo testamento interlinear, por ser mais fiel aos originais.
         Equivalente sinótico: o texto o qual é o objeto de estudo se encontra nos três evangelhos sinóticos, sendo que Marcos é muito breve, pois dedica apenas dois versículos (Mc-1:12-13) e não especifica as três tentações relatadas por Mateus e Lucas. Para Mateus e Lucas, Jesus cumpriu sua missão mediante uma luta contínua contra “satanás” chamado “diabo” acrescentando as três tentações provavelmente tiradas da fonte “Q”.
         A maior diferença encontrada no texto de Mateus com relação a Lucas: é a troca da segunda pela terceira tentação. Mateus espiritualiza o texto mais do que Lucas, tirando Jesus do deserto e o colocando no pináculo do templo que é um ambiente religioso.
          
          
Texto (Mt-4:1-11)
A tentação de Jesus

         1 Então Jesus foi levado para o deserto por o Espírito para ser tentado por o diabo. 2 E tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, ao final teve fome. 3 E aproximando-se o tentador disse a ele: Se és filho de Deus, dize para que estas pedras se tornem pães . 4 Mas ele respondendo disse: Está escrito: Não de pão somente viverá o ser humano, mas de toda palavra saindo por (a) boca de Deus. 5 Então toma o diabo consigo a ele para a cidade santa e colocou a ele sobre o pináculo do templo, 6 e diz a ele: Se és filho de Deus , joga a ti mesmo abaixo; pois escrito está: Aos anjos dele ordenará a respeito de ti e em (as) mãos carregarão a ti, para que não batas contra pedra o teu pé. 7 Disse a ele Jesus: Também está escrito: Não tentarás (o) Senhor o teu Deus. 8 De novo toma o diabo consigo a ele para um monte muito alto e mostra a ele todos os reinos do mundo e a glória deles. 9 e disse a ele: Estas coisas todas a ti darei, se prostrando-te adorares a mim. 10 Então diz a ele Jesus: Vai embora, satanás; Pois escrito está: (O) Senhor teu Deus adorarás e a ele somente darás culto. 11 Então deixa a ele o diabo, e eis anjos se aproximaram e serviam a ele.


EXEGESE
         1 Então Jesus foi levado:
         [1] A expressão ser levado define um fenômeno transcendental, levado em espírito ou transportado em espírito, o verbo está sempre no passivo, indicando uma ação que vem de fora. A palavra “espírito” está relacionada a experiência espiritual, esta experiência é entendida simbolicamente como abandono do corpo por parte do espírito, nesse abandono, o visionário é transportado para fora da realidade humana, também como o seu corpo. Vejamos alguns exemplos: (Ez-37:1-2) Veio sobre mim a mão do Senhor; e o Senhor me levou em espírito, e me pôs no meio de um vale  que estava cheio de ossos, e me fez andar ao redor deles; e eis que eram mui numerosos sobre a face do vale e estavam sequíssimos.
         (Ap-1:10-11)  Eu fui arrebatado em espírito, no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta,  que dizia: O que vês, escreve-o num livro e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia: a Éfeso, e a Esmirna, e a Pérgamo, e a Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e a Laodicéia.
         Em ambas as visões os visionários estão envolvidos tanto com o seu espírito quanto com o seu corpo, Ezequiel caminha sobre um vale de ossos e cita detalhes de sua visão “os ossos eram mui numerosos e estavam sequíssimos” ele fala, vê e ouve. João ouve uma voz e recebe ordens para aquilo que ele ver, ele escrever.
         A experiência de Jesus è real, enquanto seu espírito é levado para fora do seu corpo; Jesus experimenta a visão sendo levado em espírito, que como já vimos tem a ver com a dimensão espiritual de sua pessoa, mas Jesus é levado corporalmente por satanás, contempla todos os reinos do mundo, é levado corporalmente para Jerusalém, sendo colocado no ponto mais alto do templo. Não se trata somente de uma visão espiritual (levado em espírito), pois o corpo de Jesus está totalmente envolvido em seus sentidos: Tem fome, vê, fala, ouve e é transportado pra lá e para cá e trava uma batalha verdadeira com satanás. A impressão que se tem é a de uma experiência mística tão profunda e completa que até o corpo do visionário, e não apenas seu espírito, é envolvido. As duas dimensões, o êxtase espiritual (arrebatamento íntimo, admiração de coisas sobrenaturais) e transporte corporal, são elementos típicos da literatura apocalíptica, cujo caráter de revelação se dá geralmente pelo êxtase que possibilita a visão e o acesso às “coisas divinas”. É mais um elemento que confirma nossa intuição de considerar (Mt-4:1-11) como um relato de experiência visionária e extática (posto em êxtase).
         A experiência de Jesus é espiritual, por seu espírito está sendo levado e real quanto aos lugares que está indo, não que os lugares sejam físicos, são reais por serem locais existentes.
         Esta experiência de viagem espiritual é profunda, complexa e de difícil compreensão, que até quem experimentou não sabe definir direito, vejamos o que o apóstolo Paulo escreveu em (2Co-12:1-4)  Em verdade que não convém gloriar-me; mas passarei às visões e revelações do Senhor.  Conheço um homem em Cristo que, há catorze anos (se no corpo, não sei; se fora do corpo, não sei; Deus o sabe), foi arrebatado até ao terceiro céu.  E sei que o tal homem (se no corpo, se fora do corpo, não sei; Deus o sabe) foi arrebatado ao paraíso e ouviu palavras inefáveis, de que ao homem não é lícito falar.
         2 Para o deserto:
         Agora precisamos analisar alguns fatos; a tentação de Jesus se dá logo depois do seu batismo, no evangelho de Marcos (1:9) diz que Jesus indo de Nazaré da Galiléia. Foi batizado por João no rio Jordão, e o evangelho de João identifica esta região em que João batizava, sendo em Betânia (Jo-1:28) essas coisas aconteceram em Betânia, do outro lado do Jordão onde João estava batizando.
         Betânia, que quer dizer “casa dos pobres” uma aldeia na vertente oriental do monte das oliveiras, cerca de 2.700 m. quase 3 km. a oeste de Jerusalém, na estrada que liga Jerusalém a Jericó. Era em Betânia que se situava a casa dos irmãos, Lázaro, Marta e Maria. Na maioria das vezes que Jesus esteve naquela região hospedava-se na casa deles. (Mt-21:17), (Mc-11:1,11,12), (Lc-10:38), (Jo-11:1).
         Por estas referências e pelo contexto de que Jesus estava naquela região, acredito que depois do seu batismo Jesus foi para casa dos seus três amigos, se isolando em algum lugar da casa, ficando em jejum por quarenta dias, Jesus absteve-se de alimento, mas não de água. Abster-se de água por quarenta dias requer um milagre. Uma vez que Jesus teve que enfrentar a tentação, como representante do homem ele não podia empregar nenhum outro meio para vencê-la além do de um homem cheio do espírito Santo. Após os quarentas dias de jejum, entra em êxtase espiritual. Êxtase (arrebatamento íntimo, admiração de coisas sobrenaturais) ou seja levado em espírito.
         O primeiro deserto a que Jesus é submetido é uma solidão interior, pois nem sempre deserto se refere a um lugar geográfico, mas também a lugar desabitado, despovoado ou estar sozinho, nesta experiência Jesus é levado para fora do seu corpo, isso acontece numa situação de solidão interior, que em primeiro plano não deve ser entendida como ir para um lugar geográfico, mas sim como uma situação espiritual, após quarenta dias desse deserto (solidão interior) entra em êxtase espiritual e de dentro desse primeiro deserto faz uma viagem extática (posto em êxtase) o êxtase, a saída do corpo e a visão de Deus são simbolicamente expressos na estrutura literária da “viagem extática”. [2] Existem vários tipos de “viagens extáticas” sendo que as mais conhecidas, na literatura antiga, são a viagem ao céu, a descida ao inferno e a viagem pela terra. Vamos analisar as três, procurando elementos para entender a “estranha viagem” de Jesus no relato da tentação.  
2.1) Viagem ao céu: É a mais comum das viagens, sobretudo na literatura apocalíptica, nos capítulos 4 e 5 do livro do apocalipse encontramos alguns  elementos de viagem celestial. (Ap-4:2)  e logo fui arrebatado em espírito, e eis que um trono estava posto no céu, e um assentado sobre o trono.
         Segundo a tradição o apocalipse foi escrito pelo apóstolo João, quando este estava só na ilha de Patmos e enviou-o às sete igrejas na Ásia Menor (1:11), no capitulo 4, João é levado em espírito para o céu, nesta viagem é acompanhado por alguém, vê um trono, alguém assentado sobre este trono, tem a visão de anjos, do que vai acontecer, audição e revelação.
         Em comparação com o nosso objeto de estudo, (Mt-4:1-11) encontramos os seguintes elementos comuns: O êxtase, assim como João Jesus é levado em espírito, situação de solidão interior, Jesus também só que por um anjo decaído, o diabo,  a subida ao ponto mais alto ou ao céu, Mateus não faz referência a Jesus atravessando vários céus, mas sim a Jesus sendo levado ao ponto mais alto do templo e a um monte muito alto, de lá Jesus contempla não o trono de Deus mas o de satanás ou seja os reinos sobre os quais ele exerce sua autoridade e pelos quais ele pede para ser adorado.
2.2 Descida ao inferno: No evangelho de Bartolomeu (citado por Justino em 150 d.C) fala da descida de Jesus ao inferno com o objetivo de tirar dali Adão e todos os que com ele se encontravam e de acorrentar o diabo, Quando ias no caminho da cruz, eu te segui de longe. E te vi a ti, dependurado no lenho, e os anjos que, descendo dos céus, te adoraram. Ao sobrevirem as trevas e eu estava a tudo contemplando. Eu vi como desapareceste da cruz e só pude ouvir os lamentos e  o ranger de dentes que se produziram subitamente das entranhas da terra. Dize-me, Senhor, onde fostes depois da cruz? Jesus então respondeu desta forma: Feliz de ti,Bartolomeu, meu amado, porque te foi dado contemplar este mistério. Agora podes perguntar-me qualquer coisa que a ti ocorra, porque tudo dar-te-ei eu a conhecer. Quando desapareci da cruz, desci aos infernos para dali tirar Adão e a todos que com ele se encontravam, cedendo às súplicas do anjo Gabriel
         No novo testamento vemos isso em (Ef-4:8-10) pelo que diz subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens. Ora, isto ele subiu que é, senão que também, antes, tenha descido as partes mais baixas da terra? Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as ciosas. Ainda temos (Rm-10:6-7), (1Pe-3:18-20), (1Pe-4:6).
2.3 Viagem pela terra: Na literatura judaica antiga a viagem pele terra por um agente celestial não era novidade, no livro de Enoque temos o seguinte relato: (1En-17) “Eles levantaram-me a um certo lugar, onde lá havia a aparência de um fogo fervente; e quando eles se agradaram assumiram a semelhança de homens. Eles levaram-me a um alto lugar, a uma montanha, cujo topo alcançava o céu. E eu vi os receptáculos da luz e do trovão nas extremidades do lugar, onde ele era profundo. Havia um arco de fogo, e flechas em seu vibrar, uma espada de fogo, e toda espécie de relâmpagos.
         Então eles levaram-me a um arroio murmurante, e a um fogo no oeste, o qual recebeu todo pôr-do-sol. Eu vim a um rio de fogo o qual fluiu como água e desaguou no grande mar para o oeste. Eu vi todo largo rio, até que cheguei a grande escuridão. Eu fui para onde toda carne migra; e vi as montanhas da escuridão as quais constituem o inverno, e o lugar do qual flui a água em cada abismo. Eu vi também as bocas de todos os rios do mundo e as bocas das profundezas.3 No testamento de Abraão, documento redigido talvez no Egito entre o I e o II século d.C, encontramos o relato de uma longa viagem de Abraão pela terra. Deus manda o arcanjo Miguel falar com Abraão sobre sua morte para que ele dê disposição sobre suas posses. E Abraão faz um pedido a Deus, por intermédio de Miguel: Enquanto estou ainda neste corpo, gostaria de ver todo mundo habitado e todas as coisas criadas, que tu estabelecestes, Senhor, através de uma palavra e depois de ter visto essas coisas, eu deixo  a vida sem tristeza” (9,6). Então Miguel pega Abraão em um carro de querubins e o levou pelo ar do céu e o conduziu numa nuvem, onde estavam outros 60 anjos.


         3 A viagem de Jesus:
         Analisando a viagem de Jesus na tentação, notamos que ele não sobe ao céu nem desce ao inferno, é uma viagem pela terra que mistura elementos da viagem celestial e da descida ao inferno, ele é levado a três lugares diferentes e reais, de dentro do seu primeiro deserto (solidão interior) ele parte através do êxtase espiritual (em espírito) para o segundo deserto, agora lugar físico, este deserto é normalmente identificado como o deserto da Judéia que se estende para oeste de Jerusalém em direção ao mar morto e ao rio Jordão, a tradição popular identificou sempre este lugar como a morada do diabo.
3.1 As três tentações:
a) A tentação de transformar pedras em pães:
 (v.3) E aproximando-se o tentador disse a ele: se és filho de Deus, dize para que estas pedras se tornem pães.
  (v.4) Mas ele respondendo disse: está escrito: não de pão somente viverá o ser humano, mas de toda palavra saindo por (a) boca de Deus.
         [3]Transformar pedras em pães era reconhecido como o sinal dos últimos tempos que o messias poderia realizar. Este seria o grande sinal revelador de sua identidade e o colocaria na tradição dos grandes profetas do passado: de Moisés que deu maná para o povo no deserto (Ex-16), de Elias (1Rs-17), de Eliseu (2Rs-4); do pão de graça que, com vinho e leite, são a promessa para os últimos tempos (Is-55:1-2).
         Quando Jesus recusa transformar pedras em pães, na realidade ele está também afirmando que sua comida é diferente, pois um ser divino nunca comeria pão como os homens, não comer pão ou comida terrena é típico de seres celestes e também dos homens que tem experiências extáticas. Abraão, viajando em companhia do anjo Javel até o trono de Deus declara: (Ap.Abr-12-1) “Assim nós partimos e juntos permanecemos durante quarenta dias e quarenta noites. Não comi pão, nem bebi água, porque o meu alimento era contemplar o anjo que estava comigo e a minha bebida era a sua palavra”.
         Jesus cita (Dt-8:3), que é a tentação do povo no deserto, aqui também há uma alusão a (Gn- 3:1-5) onde a serpente identificada como satanás faz a tentação a Eva, que por sua vez cedeu, fazendo ceder também Adão, que não olharam para o que saiu da boca de Deus em (Gn-2:17) “ mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás”.
         Mateus escreveu seu evangelho para os judeus e apoiando-se na revelação, promessas e profecias do A.T, tenta provar que Jesus era o Messias, é como se ele estivesse dizendo: olha, o povo da promessa liderados por Moisés foi levado ao deserto para ser tentado e sucumbiu, mas Jesus foi levado para o deserto e venceu, olha o primeiro Adão foi tentado a comer e comeu, mas Jesus o segundo Adão venceu e não comeu.
         Aqui Jesus foi tentado pelo diabo, no sentido de usar o seu poder para proveito próprio: transformar pedras em pães no momento de intensa fome, o objetivo de satanás era produzir na mente de Jesus, que aquelas pedras, se ele quisesse se tornariam em pães, e assim estaria obedecendo uma ordem direta de satanás. O ataque de satanás foi exatamente em uma área carente de Jesus naquele momento. O tentador não tem a intenção de expor Jesus e destruir sua reputação desta maneira. Suas intenções são bem definidas e deliberadas. Seu objetivo vai em outra direção. Seu objetivo preciso é incitar Jesus a provar que de fato é o filho de Deus, mas por que? Que vantagem ele, o diabo, teria com isso? Na verdade seria ele, o diabo, que determinaria as ações de Jesus, seria ele quem teria, na verdade, o poder, seria em seu nome e para sua glória que os milagres seriam feitos. 
b) A tentação no pináculo do templo:
(v.5) Então toma o diabo consigo a ele para a cidade santa e colocou a ele sobre o pináculo do templo,
(v.6) e diz a ele: Se és filho de Deus, joga a ti mesmo abaixo; pois escrito está: Aos anjos dele ordenará a respeito de ti e em (as) mãos carregarão a ti, para que não batas contra pedra o teu pé.
         A relativação do corpo físico no ser transportado pelo céu, passando, num piscar de olhos, de uma situação física para outra, ficaria impossível se Jesus estivesse realmente com seu corpo físico no deserto da Judéia. Após vencida a primeira tentação, o diabo transporta Jesus em espírito pelos céus e o leva para o templo de Jerusalém. Ficar na ponta do templo de Jerusalém é uma ação tipicamente messiânica, pois se acreditava que quando o messias chegasse se colocaria no lugar mais alto do templo, (Ml-3:1).
         A palavra do diabo tem o intuito de apresentar muita piedade, ele toma medidas baseado na existência divina. Pois, agora, o que está em jogo não é a honra do filho de Deus, mas a honra do próprio Deus: ”Aos anjos dele ordenará a respeito de ti” (v.6). O poder de Deus será respeitado, o que significa (de acordo com a lógica do tentador) que será permitido “operar” e esta obra deve ser “expressa”. Mas aqui não está em jogo apenas a importância soberana do próprio Deus, o Deus cuja honra o tentador parece atribuir tanta importância. Ele vai além e reitera sua pergunta com as próprias palavras de Deus: “está escrito” (Sl-91:11-12).
         Jesus, para refutar o diabo, diz: Também está escrito: Não tentarás (o) Senhor o teu Deus. (v.7ª). Jesus faz uma alusão à (Ex-17:1-7) que na jornada pelo deserto de Sim, o povo contende com Moisés pela falta de água, onde deram o nome daquele lugar Massá e Meribá, (tentação e contenda) por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao Senhor, dizendo: Está o Senhor no meio de nós, ou não? (v.7).
c) A tentação dos reinos do mundo:
(v.8) De novo toma o diabo consigo a ele para um monte muito alto e mostra a ele todos os reinos do mundo e a glória deles.
(v.9) E disse a ele: Estas coisas todas a ti darei, se prostrando-te adorares a mim.
         Jesus é transportado mais uma vez como num piscar de olhos, o cenário agora é uma montanha, cujo nome não é identificado, a partir da qual podia ver todos os reinos do mundo. A visão do mundo materialmente é impossível, pois não existe montanha tão alta que possibilite uma abrangência universal. Algo semelhante aconteceu com o apóstolo João (Ap-21:10).
         Nesta tentação, satanás tem o objetivo de vencer Jesus pela visão, astutamente de um monte alto, onde a visibilidade é maior, descortina diante dos olhos de Jesus, os reinos do mundo e a glória deles,o que satanás oferece a Jesus não é nada material ou físico, mas sim, transigência, poder terreno, artifícios políticos, violência, domínio, popularidade, honra e glória humana. Esta estratégia é muito antiga, começou lá no Éden (Gn-3:6). Ló foi seduzido pela visão da campina do Jordão e fracassou (Gn-13:10-11). No sermão do monte, Mateus escreve que a lâmpada do corpo é o olho e que se o olho for bom, todo corpo será iluminado.
         Encontramos aqui uma visão “terrestre” do trono celeste: o diabo se declara senhor dos reinos da terra habitada, propõe toda esta glória a Jesus, mas exige em troca culto e adoração, nesta tentação o diabo revela o seu maior desejo, ser adorado por Jesus. O verbo adorara do nosso texto bíblico em pauta: “estas coisas todas a ti darei, se prostrando-te adorares a mim”. (v.9) é “proskuneo” (grego), que dá a idéia de curvar-se a tal ponto de beijar os pés, Jesus responde dizendo a ele, que este tipo de adoração, somente Deus é digno de receber, que o único Senhor é Deus tanto no céu como na terra e só a ele se presta culto, (v.10). Podemos interpretar que por trás da afirmação de Jesus, “está escrito: o Senhor teu Deus adorarás e a ele somente darás culto”, tenha uma ordem explícita para o diabo voltar a sua real condição angelical dependente e a serviço do Altíssimo e não opositor e adversário dele.
         Antes da tentação em (Mt-3:17b) está escrito: “Este é o meu Filho amado”. As duas primeiras tentações o diabo usa as condicionais “Se tu és o Filho de Deus,” satanás baseado no fato de que Jesus é o Filho de Deus.  Nas condicionais “se tu..” o tentador não leva isso em consideração. Ele está bem preparado para reconhecer que Jesus é o Filho de Deus, tem duvidas apenas das razões táticas para desempenhar alguns milagres. O diabo não apenas está sendo grosseiro como procura ridicularizar o Senhor ou rir dele porque falha em operar milagre.
         O que o diabo quer dizer por Deus e Filho de Deus não é Deus absolutamente, mas um fantoche a quem o diabo faz encaixar em seus propósitos, e pode fazê-lo dançar pular, operar o milagre do pão, pular do pináculo do templo. Este deus não é o Senhor do diabo, mas seu escravo. O diabo o usa a fim de depositar as grandes questões da vida em sua conta pessoal.

         4 Paralelismo:
(v.3a) E, chagando-se a ele o tentador,
(v.11a) Então, o diabo o deixou;
         No começo da tentação se aproxima satanás, neste momento é manifesto o reino das trevas, Jesus é tentado, torturado psicologicamente e depois de todo este processo ele vence. Derrotado, o diabo retirou-se e Jesus foi servido pelos anjos, neste momento é manifesto o reino de Deus.
         Analisando este texto pude entender melhor (Tg-4:7) “Sujeitai-vos, pois a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.”

CONCLUSÃO
        
         Quando Jesus disse e fez tudo isso contra o diabo, “então o diabo o deixou, e os anjos o serviram.”
         Que conclusão para esta hora! E o reino dos céus e do inferno inclusos neste momento! Cristo foi “tentado como nós” esta é a maravilha desta hora. Pois porque ele foi tentado, tem compaixão das nossas fraquezas, temos um irmão quando o perigo mais ameaçador da vida se aproxima. Agora, não existe mais solidão
         Sim, existe outra maravilha em tudo isso: ”ele foi tentado em tudo, como nós, porém sem pecado”.
         Será que conseguimos entender o que isso significa?
         Desde o princípio sabemos como Jesus havia sido levado ao deserto, sozinho, para ser tentado, e não obviamente, para participar de um mundo de oportunidades pecaminosas e sedutoras. Esta foi a dica que recebemos quanto ao significado da tentação; pois já estudamos que o segredo da tentação é a tentabilidade do homem. Este segredo é pertinente ao próprio homem, não fora dele, não, por exemplo,nas oportunidades pecaminosas. O abismo está inserido, mesmo se ele o evitar milhares de vezes. Ele é tentado a roubar porque é um ladrão, mesmo se ele não rouba de fato. É tentado a matar porque é um assassino, apesar do fato de nunca ter matado ninguém.
         E assim, a possibilidade de sermos tentados a mentir, roubar, adulterar, nos prova que somos criaturas mentirosas. Não podemos mudar esta constituição fundamental da vida mesmo que lutemos pela verdade e contra cada mentira em cada nervo do corpo e na alma. A tentação à mentira continua; o abismo em nós clama; o pecado ali está à espera do desejo implacável. Esta é a pavorosa e inspiradora lição da tentação. “Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo sujeito a esta morte?” (Rm-7:24).

Por: Marcos Andrade.
                      
          
      
  

        
   



[1] SCHIAVO, Luigi. Orácula São Bernardo do Campo, v.1, n.1 p.4, 2005.
[2] SCHIAVO, Luigi. Orácula São Bernardo do Campo, v.1, n.1 p.8, 2005
[3] SCHIAVO, Luigi. Orácula São Bernardo do Campo, v.1, n.1 p.38, 2005